SAMORA CORREIA
FESTAS EM HONRA DE NOSSA SRA. DA OLIVEIRA E DE NOSSA SRA. DA GUADALUPE
A História da festa de Samora Correia
Tradição
Com o decorrer dos tempos, o campo invade a vila e traz para a vivência da festa o maneio do gado, as esperas de toiros, a picaria à vara larga, os jogos de cabrestos, tentas, em suma o trabalho do campo.
As festas eram dias de euforia para a população, com uma animação constante: variedades; quermesse; arraiais; bailes; jogos tradicionais e desportivos e, ao final da noite, os olhos sempre postos no céu, para o vistoso fogo de artificio.
As primeiras esperas de toiros de que há memória, ocorriam na Rua Clara Passos Esteves e no Largo do Arneiro. Mais tarde, o Calvário passa a ser o local por excelência para as esperas de toiros, seguindo-se a Rua 31 de janeiro, a Rua do Amparo (Estreitinha) e a Rua 5 de Outubro. Nos anos 80, as esperas passam a fazer-se também na Rua do Povo Livre e na Rua da Fonte dos Escudeiros.
Neste período, as esperas de toiros não eram realizadas com campinos, os toiros eram laçados à corda, para a recolha. Só em finais dos anos 70 passam a existir entradas de toiros com campinos, acabando estes por se tornarem figuras centrais da festa. Para além das entradas, o campino trouxe o maneio de gado, a picaria à vara larga e os jogos de cabrestos, enriquecendo assim as festividades.
As tradicionais entradas de toiros em Samora Correia, com campinos a cavalo, são únicas, até pelas características do Largo Calvário e ruas envolventes.
No ano de 1980, as festas passam a ter um dia dedicado ao campino e um momento de homenagem. O primeiro campino homenageado nas festas de Samora Correia foi João “Toureiro”.
Durante cerca de 10 anos, essencialmente no decorrer dos anos 40, a festa não se realizou. Em 1951, uma Comissão feminina reata os festejos, organizando desde logo uma Corrida de toiros, com uma praça de toiros improvisada com paus de eucalipto e placas de zinco, onde toureou a cavaleira Maria Mil Homens; o toureiro António José de Oliveira e outros nomes do toureio nacional. A primeira Praça de que há memoria foi montada no pátio da oficina da Companhia das Lezírias, uma outra no largo entre o cinema e a Casa do Povo e uma Praça desmontável chegou a ser montada
Devoção
O povo de Samora Correia sempre foi devoto à Nossa Sra. da Oliveira. No primeiro dia da festa, a padroeira, em procissão de velas, saía da Igreja Matriz, passando pela igreja da Misericórdia onde estavam o Sr. Jesus e a Nossa Sra. de Sétias. No encerramento dos festejos, nova procissão de velas no caminho inverso, sempre acompanhada pela imagem de Nossa Sra. da Oliveira e pela Banda Filarmónica União Samorense. No domingo, dia dedicado à padroeira, também a Nossa Sra. de Alcamé, vinda da sua ermida na lezíria, chegava em romaria acompanhada por uma guarda de honra de campinos, cabrestos, charretes, lavradores e cavaleiros amadores. Seguia-se a missa solene que, grande parte das vezes, era uma missa campal na praça da Republica, devido ao elevado número de fiéis. No final realizava-se a grande procissão com todas as imagens, percorrendo as principais ruas da vila.
Nos anos 50, o padre João Pires de Campos, dada a sua grande devoção à Sra. de Guadalupe, introduz nas festas de Samora Correia esta santa de origem espanhola, associada aos lavradores e tapadeiros. A capela que acolhia a Nossa Sra. da Guadalupe, no Mar da Pedra, em Porto Alto, estava abandonada, acabando por ruir, sendo que a imagem foi acolhida no Palácio da Companhia até ser resgatada pelo Padre João. A festa passou a ser feita em honra da padroeira, Nossa Sra. de Oliveira e também em honra de Nossa Sra. da Guadalupe, mantendo-se até aos dias de hoje.
Anos mais tarde, na década de 80 e 90, são criadas duas capelas em dois lugares da freguesia de Samora: a de Nossa Sra. de Guadalupe, em Porto Alto e de São João Batista, nos Arados. Essas imagens passam a chegar à festa no 1º dia integrando a procissão das velas.
Nos arredores da vila de Samora Correia, nas quintas e herdades existiam capelas e ermidas, locais de culto e oração: Santa Ana, na Quinta dos Gatos; São João Baptista, em Belmonte; Senhora de Sétias, no Porto de Sétias e Senhor Jesus, em Pancas. Com o decorrer dos tempos, esses espaços de oração ficaram ao abandono e as imagens acabaram por ser acolhidas na Igreja Matriz:, saíando à rua na grande procissão de domingo.
O tocar a rebate dos sinos com os andores de Nossa Sra. de Oliveira; Nossa Sra. da Guadalupe e de Nossa Sra. de Alcamé, voltadas para a população em frente à Igreja Matriz, é sempre um grande momento de fé e devoção.
Diversão
As festas de Samora Correia eram momentos de divertimento, de alegria, de encontros e de partilha, ansiados por todos os samorenses. Nos primeiros tempos, os arraiais populares eram abrilhantados pela Banda da Sociedade Filarmónica União Samorense e por outras Bandas de localidades vizinhas. Anos depois, com o surgimento dos grupos musicais, os programas passam a apresentar de forma singular os arraiais populares abrilhantados por grupos como o “O Almansor”; “O Aliança”;; “Ulisses e o seu conjunto”; Conjunto Musical Carlos Manuel”, “Os Duques”, entre outros. Com o surgimento dos ranchos folclóricos, nos anos 50, vislumbra-se num dos programas das festas da época, a estreia do rancho da Casa do Povo de Samora Correia, ensaiado por António Tito.
O dia acabava com um vistoso fogo de artifício, preso e do ar, em que se queimava a latada com os serradores. Os corações desta população humilde, trabalhadora e muito festeira, estremeciam de alegria.
Mais tarde, surgem as variedades com artistas vindos de Lisboa, da rádio e da televisão, geralmente à segunda-feira, dia dedicado ao Emigrado nos anos 70, com espetáculos pagos que se realizavam no barracão da Companhia das Lezírias ou no campo da Bola.
Nessa altura surge a noite da sardinha assada, ao sábado. Nas diversas praças e ruas da vila a animação era muita: com arraial, fados e guitarradas na Fonte e os cavalinhos musicais que circulavam por entre os convivas. A grande novidade era mesmo a distribuição gratuita de sardinhas, pão e vinho, a par de uma boa dose de animação.
A terça-feira, último dia das festas, apresentava uma programação desportiva com a introdução da tarde infantil e jogos tradicionais: o pau de sebo, as corridas de sacos, os 3 pés, as corridas de burros, as corridas de carroças, de bicicletas e gincana de automóveis.
Com o passar dos anos, as variedades deixam de estar concentradas num só dia, acontecendo no decorrer dos diferentes dias da festa e de forma gratuita. Atualmente, a noite termina com a atuação de Dj´s, para animar um público mais jovem.
Ontem e hoje, a população de Samora Correia continua a contar os dias para chegada da festa, para viver, com alegria, momentos divertidos e felizes.