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Março Mês da Mulher, Entrevista Filipa Pinheiro, Enfermeira no Hosp. V. F. de Xira

Filipa Pinheiro, enfermeira há 5 anos, natural de Benavente.

Certo.

Estamos aqui na fachada principal do antigo hospital da Misericórdia de Benavente.

Filipa, este edifício na tua infância deu-te algumas marcas, deixou-te algumas marcas? Marcou a tua vida? Ou passavas aqui e não…

Não. Na verdade, nunca me esqueço que Benavente tem um hospital. Desde que eu nasci e aqui cresci, vários foram os serviços que foram passando. Não foi um sítio que eu fosse muito visitando, mais até pela parte social, na questão do lar, mas houve assim alguns exemplos mas não foi assim um edifício que eu precisasse de vir assim muitas vezes.

Mas quando eras miúda e passavas aqui em frente a este edifício pensavas: “Um dia vou ser enfermeira!” Ou não estava nos teus planos ser enfermeira?

Não. Eu na verdade nunca soube o que é que eu queria ser. Fui mudando de profissão conforme fui crescendo. Mas só no último dia, prestes a ter que colocar no ingresso o que é que eu queira ser, é que eu decidi que queria ser enfermeira. Foi muito perto.

E o que é que te levou, nesse último dia, qual foi o pensamento que te levou a: “Não, eu vou ser enfermeira. E esta vai ser a vida que eu quero seguir.”?

Eu sempre soube que queria seguir algo na área da saúde. E que fosse uma coisa dinâmica. Que não fosse uma coisa muito parada, num escritório. E depois fiz alguns testes, que nós fazemos no final do secundário, também falei com alguns familiares, e sugeriram-me “E que tal enfermagem?”. E comecei a pensar talvez seja adequado para mim.

Como é que tu hoje, hoje que tens já uma experiência de cinco anos, como é que tu hoje olhas para a enfermagem? Lembrares quando eras miúda, achas que há uma evolução, houve uma evolução do ponto de vista da forma como os enfermeiros hoje lidam com as pessoas ou achas que é igual?

Eu acho que houve uma evolução. Eu acho que hoje a arte da enfermagem é o cuidar e isso não nos podemos dissociar. Mas eu acho que hoje cuida-se com mais segurança, com mais conhecimento, e até com mais investimento na profissão. Nós somos uma terra de tradições e a enfermagem sempre começou muito na base do cuidar, tinha algumas mezinhas que se iam aplicando e hoje eu acho que não. Eu acho que hoje nós já atuamos com mais segurança e mais investimento no nosso conhecimento.

E diz-me uma coisa, a enfermagem, porque estamos aqui a lidar com pessoas e falamos de sentimentos, a Filipa enfermeira e a Filipa mulher elas subdividem-se muito bem, portanto a Filipa quando tira a sua farda e quando sai do hospital deixa lá no armário a Filipa enfermeira e vem para casa Filipa mulher ou a Filipa enfermeira muitas vezes vem com a mulher?

Eu sempre fiz muita questão de separar essas duas “áreas” não é. Sempre tive alguma facilidade em conseguir soltar do trabalho e quando tiro a farda saio do hospital e sou eu. E ás vezes isso é mais complicado junto dos familiares e dos amigos que, indiscutivelmente, acabam sempre por perguntar alguma coisa sobre enfermagem ou sobre o trabalho hospitalar. Mas eu tento sempre separar porque acho que também é preciso. Porque é preciso ser enfermeira, é preciso ser mulher, é preciso ter uma vida profissional e uma vida pessoal e eu gosto sempre de as separar.

Enquanto mulher achas que, e olhando para o mundo, o facto de teres sido mulher tens que te afirmar mais do que um colega teu que se for homem por exemplo? Na tua profissão. Ou achas que está tudo igual?

A enfermagem é e sempre foi, acho eu, um mundo muito feminino. Existem mais enfermeiros do que enfermeiros. E, portanto, eu acho que com os meus pares e as profissões com as quais trabalhamos eu não noto diferença por ser mulher. Ás vezes isso acontece junto dos doentes de quem cuidamos. E por vezes a presença masculina faz-se mais evidenciar tanto na transmissão do conhecimento como na indicação de algum procedimento junto dos doentes, curiosamente dos mais velhos. Por vezes as indicações que nós damos e as que o enfermeiro homem dá são diferentes.

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